Para refletir ...

"A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria."



Paulo Freire

Para LER e indicar

A fábula do lixo que se multiplicava

Não somos mágicos e nem Reis de fábulas antigas, mas temos o incrível dom de transformarmos tudo que tocamos em lixo.


Lembram da história do Rei Midas, ganancioso como nenhum outro e que conseguia por meio de um desejo, que tudo que tocasse virasse ouro, inclusive a própria comida?

Pois bem, o homem moderno não deixa nada a desejar para o tal rei. É individualista, deseja que todas as coisas trabalhem para o seu próprio conforto e é acima de tudo ganacioso. Uma das maldições deste "rei" moderno é que tudo que toca se transforma também, mas não em ouro, e sim em lixo! Sim! Tudo é convertido em lixo e é esta a maldição que carregamos conosco.


Esgoto nos rios, gases tóxicos e poluentes na atmosfera, lixo em todos os lugares. Um simples lanche pode gerar tanto lixo quanto gerações anteriores nunca imaginariam. Tudo isto possui um custo, que hoje é ignorado pelas pessoas, afinal não é problema delas não é? Vem o caminhão de lixo e leva tudo para longe, a descarga carrega o que não presta e vamos assim vivendo. Para onde vai tudo isto? Quem se importa!? Esgotamento dos recursos naturais? Que besteira! O mundo é muito grande! Sempre terá mais matéria prima para criar ainda mais lixo...ou será que não?
Na era do descartável talvez tenha sido um dos maiores erros da humanidade, pois não só as coisas físicas são descartáveis hoje como as idéias também.


Assim, em meio ao exército de lobotomizados, vamos caminhando a passos largos para nossa própria destruição. O que faremos para sair e tentar mudar as coisas? Vamos adotar o velho comodismo de sempre e nos mexer quando as coisas ficarem de maneira que nada mais se possa fazer ou prestar atenção para o que ocorre agora?


Para aqueles que desejam um futuro, que desejam poder sentar debaixo de uma árvore para repousar e não sentir o suave aroma do lixo, aqueles que amam nosso planeta, já que é aqui que seremos obrigados a ficar até o final de nossos dias, para aqueles que pensam nas gerações que virão, mexam-se! Reciclem o máximo que puderem, inclusive suas idéias!


Assim como o Rei que tudo transformava em ouro, até a própria comida, e acabou morrendo de fome, desejo um futuro em que não precisemos comer o produto de nosso lixo ou talvez morrer por decorrência deste. Mas para construirmos coisas belas, nunca necessitamos de mágica e sim de nossa espantosa criatividade e consciência de nós mesmos. Logo seria tão complicado mudarmos um atitude em troca de um futuro?

Autor(a): Daniel Pereira
Formado em Física / Astrofísica pela Universidade de São Paulo. Fez cursos nas faculdades de Filosofia e Geologia na Universidade de São Paulo. Fez cursos na área de artes plásticas e história da arte no Centro Cultural São Paulo. Atualmente é empreendedor na área de tecnologia e web.
Contato: danielusp@bol.com.br

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De repente, nas profundezas do bosque


Autor: Amós Oz
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Fábula
 
Numa vila triste, vivem pessoas sem animais nem insetos, que fugiram num passado remoto e hoje estão quase apagados da memória coletiva. Os bichos foram morar num bosque com Nehi, o demônio da Montanha.
Com medo do bosque, do escuro, de Nehi e de suas lembranças, aldeões trancam suas casas à noite.
As crianças da aldeia nunca viram ou ouviram pássaros, vacas, cachorros, cavalos, moscas. Os adultos “normais” negam a existência de animais. Os diferentes, rotulados de esquisitos ou loucos, são a memória viva do passado alegre da aldeia, quando havia bichos. A professora desenha animais e reproduz seus ruídos; o pescador faz esculturas de bichos para as crianças; a padeira joga migalhas no chão para pássaros inexistentes. O garoto Nimi desobedece à proibição de ir ao bosque e fica doente de “relincho”. Todos são
alvo de deboche, excluídos pela comunidade.
A agressividade que domina os habitantes da aldeia pode ser interpretada como um desequilíbrio ecológico provocado pelo homem. Como o aquecimento global ou outros efeitos, levando ao desaparecimento dos bichos e dos “diferentes”.
Duas crianças partilham suas dúvidas sobre a inexistência de bichos, enfrentam o medo, entram no bosque, descobrem os animais e o “demônio” Nehi. Como Nimi, ele havia fugido da aldeia quando menino, vítima da perseguição de todos. Mas não encontrou a paz e sente falta das pessoas da aldeia.
Essa fábula de Amós Oz, o mais importante escritor israelense contemporâneo, fala de intolerância, preconceito, perseguição, isolamento, solidão. Mostra tanto o sofrimento das vítimas, quanto o dos que se submetem aos modelos sociais e reproduzem aquelas atitudes. Alerta para a necessidade de interferência dos adultos (inclusive professores) ensinando o respeito à diversidade.

Adriana Maricato*
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